Émile Durkheim: O Fundador da Sociologia Moderna


Émile Durkheim, nascido em 15 de abril de 1858, em Epinal, França, é amplamente reconhecido como um dos fundadores da sociologia moderna. Sua obra é fundamental não apenas para o desenvolvimento da sociologia como ciência, mas também para a construção das bases metodológicas e teóricas que sustentam a disciplina até os dias de hoje. Durkheim propôs que a sociedade deveria ser estudada com a mesma objetividade e rigor que as ciências naturais, inaugurando uma nova abordagem científica para a compreensão das estruturas sociais e suas funções.

Durkheim, influenciado pelas transformações sociais e pela crescente complexidade das sociedades modernas do final do século XIX e início do século XX, procurou entender como a coesão social se manifestava em um contexto de rápidos processos de mudança social, industrialização e urbanização. Ele foi um dos primeiros a defender que a sociedade não era simplesmente uma soma de indivíduos, mas uma realidade própria, com suas próprias leis e dinâmicas, que deveriam ser compreendidas em seus próprios termos.

Formação e Influências

Durkheim estudou na École Normale Supérieure, em Paris, onde teve contato com as principais correntes filosóficas e científicas de sua época. Sua formação foi profundamente marcada por sua aproximação do positivismo de Auguste Comte e pela influência da filosofia de Kant e do idealismo alemão. Porém, Durkheim soube integrar essas influências em um pensamento próprio, que buscava distanciar-se de especulações abstratas para se concentrar na análise empírica dos fenômenos sociais.

A trajetória de Durkheim também foi fortemente marcada pela tentativa de consolidar a sociologia como uma disciplina acadêmica independente e rigorosa, separando-a da filosofia, da psicologia e das ciências políticas. Durante sua carreira, ele se dedicou a estabelecer métodos científicos para estudar a sociedade e as instituições, afirmando que o comportamento social não deveria ser reduzido a explicações individualistas, mas sim compreendido a partir de fatores sociais coletivos.

A Sociologia como Ciência Positiva

Durkheim defendeu que a sociologia deveria ser uma ciência objetiva e empírica, baseada na observação e análise de dados sociais. Em sua obra As Regras do Método Sociológico (1895), ele propôs que o sociólogo deveria tratar os fenômenos sociais como “fatos sociais”, ou seja, aspectos da vida coletiva que exercem uma influência coercitiva sobre os indivíduos. Esses fatos sociais, para Durkheim, eram independentes da vontade e da consciência dos indivíduos, sendo fundamentais para a manutenção da ordem social. Para ele, a sociedade não podia ser reduzida a uma simples soma de indivíduos, uma ideia que o separava dos principais filósofos do individualismo e do empirismo da época.

Em sua visão, a sociologia deveria estudar esses fatos sociais da mesma forma que se estuda os fenômenos naturais, sem recorrer a especulações ou hipóteses metafísicas. Durkheim buscava demonstrar que as leis sociais poderiam ser identificadas e compreendidas de maneira científica, o que significava que os sociólogos poderiam, de fato, revelar padrões e regularidades nas relações sociais e nas instituições.

Solidariedade Social: Mecânica e Orgânica

Em sua obra A Divisão do Trabalho Social (1893), Durkheim propôs a noção de solidariedade social, que se tornou um conceito central em sua sociologia. Ele diferenciou dois tipos principais de solidariedade, baseando-se nas mudanças que ocorriam nas sociedades ao longo do tempo:

Solidariedade Mecânica: Este tipo de solidariedade é característica das sociedades tradicionais, nas quais as pessoas compartilham um conjunto comum de valores, crenças e práticas. Nelas, a coesão social é mantida pela semelhança entre os indivíduos, que desempenham funções similares. Nesse tipo de sociedade, as normas e regras são rigorosamente seguidas, e a conformidade social é um valor central.

Solidariedade Orgânica: Em sociedades modernas e complexas, Durkheim observou que a coesão social era mantida pela interdependência das pessoas, em vez da semelhança. A divisão do trabalho social, ou seja, a especialização das funções, promove uma maior cooperação entre os indivíduos, que dependem uns dos outros para a realização de suas tarefas. Esse tipo de solidariedade caracteriza as sociedades industriais e urbanas, nas quais a complexidade das funções sociais é muito maior.

A transição da solidariedade mecânica para a solidariedade orgânica reflete a evolução das sociedades, com o aumento da divisão do trabalho e o desenvolvimento de uma maior complexidade nas relações sociais. Durkheim acreditava que a solidariedade orgânica era um passo essencial para o progresso das sociedades modernas, embora também apresentasse novos desafios, como a fragilidade das normas sociais e o risco de anomia (falta de normas ou regras claras).

Anomia e a Crise Social

Durkheim também dedicou uma parte significativa de sua obra ao estudo da anomia, conceito que se tornou um dos pilares da sua análise sobre a desintegração social. A anomia, para Durkheim, ocorre quando há uma desconexão entre os objetivos culturais de uma sociedade e os meios que seus membros têm para alcançá-los. Em tempos de rápida transformação social, como os experimentados pelas sociedades europeias no século XIX, a mudança acelerada pode gerar um estado de desorganização e incerteza, prejudicando a coesão social e o bem-estar dos indivíduos.

Esse fenômeno foi observado por Durkheim em sua pesquisa sobre o suicídio, um dos seus estudos mais importantes. Em sua obra O Suicídio (1897), Durkheim demonstrou que taxas de suicídio eram mais altas em sociedades caracterizadas por altos níveis de anomia, como aquelas com uma rápida modernização ou com forte individualismo. Ele identificou diferentes tipos de suicídio, como o suicídio egoísta (ocorrido quando os laços sociais são fracos) e o suicídio altruísta (quando os indivíduos se sacrificam por um bem maior), destacando como fatores sociais estruturais podem influenciar o comportamento individual de forma decisiva.

Durkheim e a Educação

Durkheim também contribuiu significativamente para o campo da educação, particularmente no que diz respeito à formação de uma moralidade social. Ele via a educação como um mecanismo fundamental para a transmissão dos valores e normas de uma sociedade, sendo essencial para a manutenção da coesão social. Em sua obra A Educação Moral (1903), Durkheim argumentava que a educação deveria ensinar os jovens a compreender e respeitar as normas sociais, promovendo o sentido de solidariedade e pertencimento à sociedade.

Durkheim acreditava que, em uma sociedade moderna e complexa, a educação não deveria se limitar ao simples aprendizado de habilidades técnicas, mas deveria incluir uma formação moral que permitisse aos indivíduos se inserirem de maneira harmônica e equilibrada no coletivo.

Legado Durkheimiano

O legado de Durkheim para a sociologia é imenso e duradouro. Ele foi pioneiro na ideia de que a sociedade possui uma existência própria, distinta das ações e intenções dos indivíduos. Seu trabalho metodológico e suas teorias sobre os fatos sociais, a solidariedade, a anomia e o suicídio continuam a ser fundamentais para os estudos sociais contemporâneos.

Durkheim teve uma grande influência sobre sociólogos como Max Weber, Talcott Parsons e Robert K. Merton. Suas ideias também desempenharam um papel crucial na criação de uma tradição sociológica que se opõe ao individualismo metodológico, enfatizando a importância das estruturas sociais e dos processos coletivos para entender o comportamento humano.

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