As Provas da Existência de Deus Segundo Tomás de Aquino: Uma Reflexão Filosófica e Teológica


A questão da existência de Deus sempre foi um dos temas mais debatidos na filosofia e na teologia. Diversos pensadores ao longo da história tentaram oferecer argumentos racionais que pudessem justificar a crença em Deus, e um dos mais influentes é o filósofo e teólogo Tomás de Aquino. Conhecido por sua síntese entre a razão e a fé, Aquino apresentou cinco "provas" ou "argumentos" para demonstrar a existência de Deus, que ficaram conhecidos como as Cinco Vias. Essas provas, que fazem parte de sua obra "Summa Theologica", são uma tentativa de mostrar que a razão humana, mesmo sem recorrer a revelações religiosas, pode chegar à conclusão de que Deus existe.

Neste artigo, exploraremos essas cinco vias de Tomás de Aquino, apresentando-as em detalhes e refletindo sobre seu impacto no pensamento filosófico e teológico.

Primeira Via: O Argumento do Movimento ou da Mudança

A primeira prova de Aquino é baseada na observação do movimento no universo. Segundo ele, tudo o que se move ou muda precisa ser movido ou alterado por algo que já esteja em movimento. Tomás de Aquino segue Aristóteles, que afirmou que é impossível que algo se mova sem que haja algo que o mova.

Ao observarmos o mundo, vemos que as coisas estão em constante mudança. Aquino afirma que não pode haver uma sequência infinita de causas que movem as coisas, pois, se isso fosse verdade, nunca teríamos um movimento inicial. Portanto, deve existir algo que mova, mas que não seja movido por nada — algo que seja, em si mesmo, imutável. Este "primeiro motor" ou "causa não movida" é identificado como Deus.

Essa primeira via é uma maneira de mostrar que a mudança no mundo exige, em algum ponto, uma causa última, que é Deus, que iniciou o movimento sem ser ele próprio movido.

Segunda Via: O Argumento da Causa Eficiente

A segunda prova de Tomás de Aquino é fundamentada na noção de causa e efeito. Assim como na primeira via, Aquino observa que tudo o que acontece no universo tem uma causa. Se existe um efeito, então deve haver uma causa que o produza.

Aquino argumenta que não pode haver uma cadeia infinita de causas, porque, em tal cenário, não haveria um início para os eventos. Ele afirma que deve haver uma causa primeira, que não seja causada por nada mais. Essa causa primeira seria, portanto, Deus, o causador necessário, que deu início a todas as outras causas no universo. Deus é a causa primeira que estabelece a cadeia de causalidade, e, sem Ele, nada existiria.

Terceira Via: O Argumento da Contingência e Necessidade

A terceira via parte da observação de que muitas coisas no mundo são contingentes — ou seja, elas existem, mas poderiam não existir. Se tudo o que existe fosse contingente, ou seja, se fosse possível que nada existisse, então, em algum momento, não haveria nada. Porém, se em algum momento não houvesse nada, nada poderia ter começado a existir, pois algo não pode surgir do nada.

A partir dessa reflexão, Aquino conclui que deve existir algo que seja necessário, ou seja, algo que exista por sua própria natureza e que não dependa de outra coisa para existir. Esse ser necessário é Deus, que não depende de nada nem de ninguém para existir e cuja existência é essencial para a continuidade de todo o universo.

Quarta Via: O Argumento dos Graus de Perfeição

Na quarta via, Tomás de Aquino observa que, no mundo, percebemos diferentes graus de perfeição nas coisas. Por exemplo, algumas coisas são mais boas, mais verdadeiras ou mais belas do que outras. Aquino sugere que, para que possamos perceber diferentes graus de perfeição, deve haver uma perfeição máxima, que seja a fonte de todas as qualidades. Assim como, para falar de algo quente, é necessário entender o conceito de calor absoluto, para reconhecer o bom, o belo ou o verdadeiro, precisamos de um padrão máximo de bondade, beleza e verdade.

Esse ser perfeito é identificado como Deus, o ser cuja bondade, beleza e verdade são máximas, e que serve como o padrão de todas as coisas boas ou belas no universo. Deus é a perfeição suprema, e todas as coisas boas participam dessa perfeição de maneira limitada.

Quinta Via: O Argumento da Ordem do Universo

A quinta e última via é baseada na observação da ordem e finalidade no universo. Tomás de Aquino destaca que muitas coisas no mundo, especialmente na natureza, não possuem inteligência, mas ainda assim agem de forma ordenada e com um propósito. Por exemplo, uma pedra cai para o chão por causa da lei da gravidade, e as plantas crescem de acordo com certas leis naturais. Embora esses elementos da natureza não possuam inteligência, eles seguem um padrão ordenado.

Aquino afirma que essa ordem e finalidade no universo não podem ser fruto do acaso. Se uma coisa sem inteligência segue um padrão, deve haver algo inteligente que a oriente para um fim específico. Esse ser inteligente e ordenante é Deus, que governa o universo e o orienta para um propósito.

As Implicações das Cinco Vias

As provas de Tomás de Aquino, ao serem examinadas, revelam não apenas uma tentativa de provar racionalmente a existência de Deus, mas também uma reflexão profunda sobre a relação entre razão e fé. Aquino acreditava que a razão humana, por meio da observação do mundo e da reflexão lógica, poderia levar à conclusão de que Deus existe. Ao mesmo tempo, ele também reconhecia que a revelação divina e a fé eram necessárias para compreender a plenitude da natureza de Deus.

Esses argumentos, apresentados em sua obra "Summa Theologica", influenciaram profundamente a filosofia escolástica medieval e continuam a ser debatidos por filósofos e teólogos contemporâneos. Embora algumas das provas de Aquino sejam vistas como menos convincentes na filosofia moderna, elas permanecem um marco importante na história da teologia e da filosofia, refletindo a tentativa humana de entender a presença de Deus no mundo por meio da razão.

As Cinco Vias de Tomás de Aquino oferecem uma abordagem racional para a questão da existência de Deus. Elas propõem argumentos baseados na observação do mundo e na lógica, buscando mostrar que Deus é a causa última de tudo o que existe. Mesmo que a ciência moderna tenha levado a uma reinterpretação de muitos desses argumentos, as reflexões de Aquino continuam a ser uma das bases mais sólidas para o diálogo entre fé e razão. Ao estudar essas provas, podemos perceber que o pensamento filosófico sobre Deus, além de ser uma busca intelectual, também envolve um profundo exame da ordem, do propósito e da perfeição do universo em que vivemos.

Veja abaixo, um vídeo sobre TOMÁS DE AQUINO

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